Rita Taraborelli

31 de mai de 20212 min

Feijão com alho silvestre

Outro dia fui mexer no canteiro e vi um dente de alho brotando, indaguei se poderia ter vindo do composto da cozinha, então resolvi o enterrar para que pudesse crescer. Conforme os dias foram passando, percebi que o alho se desenvolvia, até que um dia veio a flor. Eram flores miúdas, poucas e delicadas, bem diferentes da flor do alho que estava pensando. Pois bem, cheguei mais perto e fiquei analisando: cheiro leve de alho, botões florais com traços de alho e um desenho muito parecido com o do nirá. E, por um momento, surgiu a sensação de que aquilo era, sim, alho, era um alho-do-mato. Fui correndo no livro do Kinnup* e busquei por alho. Lá estava ele, alho silvestre – e ainda por cima, nativo!

Naquele momento foi impossível não refletir na força de nossa intuição, na potência dos nossos registros diários, os mínimo detalhes que observamos em um simples traço. A humanidade começou a escrever a medicina das plantas e os conhecimentos que adquiriram da natureza, através da observação. E, hoje, com tanta informação e acesso, é fácil se distanciar desta sabedoria natural que nos habita.

Bora falar do alho que ele é ma-ra!

Segundo Kinnup, o alho silvestre era um alimento usado como tempero pelos tropeiros durante suas viagens. Achei interessante pois nasci aqui em Sorocaba, cidade que tem um histórico com o tropeirismo.


 

Bom, só sei que uma das primeiras coisas que fiz com este alho foi temperar um feijão. Receita simples, popular e muito tradicional na mesa brasileira. Usei o bulbo, as folhas e as flores. Dourei com azeite e misturei com o feijão que já estava começando a engrossar. Feijão, alho silvestre, azeite e sal. Só.


 

O alho silvestre, Nothoscordum gracile, tem odor e sabor bastante suave e agradável, não me lembro de quantos já arranquei pensando que fossem mato. A vizinhança deve pensar que largamos o jardim, pois já não tiro mais os alhos, eles nascem aos montes, são espontâneos. Se você ainda não experimentou, aproveita, nunca é tarde para descobrir os alimentos que sempre cresceram no nosso jardim.


 

Feijão com alho silvestre


 

400 g de feijão carioca ou outro

1 alho silvestre com as folhas

Azeite

Sal


 

  1. Deixe o feijão de molho por uma noite. Escorra e descarte a água do demolho.

  2. Coloque o feijão demolhado em uma panela, cubra com água e leve ao fogo. Assim que iniciar fervura, abaixe o fogo e cozinhe por aproximadamente 60 minutos ou até o feijão ficar macio.

  3. Pique o alho, incluindo as folhas, e doure no azeite. Despeje no feijão, adicione sal e mantenha em fogo baixo para engrossar o caldo. Se necessário adicione mais água até que o feijão fique bem grossinho.


 

Observação: Algumas variedades de feijão não fazem muito caldo. Neste caso você pode adicionar uma ou duas conchas dele já cozido no refogado de alho e amassá-lo com as costas de uma colher ou garfo, voltando o refogado de alho e feijão para a panela até, enfim, que engrosse.


 


 

*Livro: Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, de Valdely Kinnup e Harri Lorenzi, Editora Plantarum. O alho está na p. 72.

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